Filho das Sombras - Juliet Marillier

FILHO DAS SOMBRAS
JULIET MARILLIER
Butterfly


Este romance (Son of the Shadows, 616p., Butterfly) histórico e medieval é o segundo volume da série Sevenwaters, que me encantou pelo fato da escritora mostrar um enredo onde personagens fortes e corajosos aprenderão sobre o poder das adversidades, porque há um limite tênue entre a luz e as sombras.

(...) sou o filho das sombras, condenado a vagar na escuridão.
Pág. 436

A lenda se alastrou pelo condado depois que Sorcha quase perdeu a vida enfrentando uma terrível maldição que abalou a toda sua família em Filha da Floresta. Nesta sequência, vemos como estão os personagens do livro anterior, mas agora a trama é centrada na corajosa Liadan que, aos 16 anos, tem ideias próprias e herdou de seus pais a habilidade da cura, da visão e de falar com os Seres da Floresta da mãe; e o dom do amor, além de um poder perigoso de mudar as coisas.

É uma jovem admirável, forte e comprometida com suas tarefas e ideais, doce e leal para com sua família, mas julga rigidamente suas ideias. Ela é uma luz na escuridão na vida de todos.

— Você não gostaria que algo diferente acontecesse, algo tão novo intenso e especial que a carregasse para longe como um onda? Que transformasse sua vida em um acontecimento brilhante como o fogo que o mundo inteiro pudesse ver? Algo que a tocasse e lhe desse muita alegria ou mesmo medo, mas que a tirasse do caminho comum e a levasse para uma jornada inesperada, para lugares que ninguém imagina? Você não sonha com algo assim, Liadan?
Pág. 21

Aprendeu com seu pai juntamente com seus irmãos — Sean (seu gêmeo valente) e Niamh — a arte da guerra para se defender e enfrentar perigos que estão à espreita, porque o domínio de Sevenwaters (um lugar misteriosamente remoto, guardado e preservado por homens silenciosos, criaturas encantadas e druidas) está em guerra. 

Mas senti um calafrio novamente. O que havia de errado comigo? Como podia pensar que algo de ruim pairava sobre minha família em um dia tão lindo de primavera, com tanta alegria ao meu redor?
Pág. 32

Precisam recuperar as Ilhas Perdidas do domínio dos bretões até que surgem rumores da invasão de mercenários fortes e arrogantes, assassinos cruéis e frios, guerreiros com habilidades incomuns.

Um dia, Liadan recebe a incumbência dos Seres da Floresta de que não deve abandonar seu condado e muito menos aqueles que lhe são caros. 

— Que tipo de homem você escolheria para se casar, Liadan?
— Alguém de confiança e honesto consigo mesmo. (...). O tipo que fala o que pensa sem temer. Que possa ser tanto um marido quanto um amigo. (...).
— Para ser honesta (...) se ele fosse jovem, belo e rico, seria ainda melhor. Mas isso é o que menos importa. Se eu pudesse ter a sorte, simplesmente a sorte de me casar por amor, como você e mamãe... mas isso é muito improvável, eu sei.
— É uma satisfação imensa (...). Mas traz também um grande medo. Quem ama assim, torna-se refém do destino. É difícil aceitar o que ele nos reserva.
Pág. 41

Até que um casamento convencional põe tudo a perder por conta da rebeldia de Niamh, de 17 anos, porém um amor proibido a obriga a se casar sem amor para obter uma aliança estratégica forte para as famílias, já que naquele tempo cabiam às mulheres obedecerem às ordens dos homens.

— Ele disse que me amaria para sempre (...). Os homens são mesmo mentirosos. Eu disse que seria somente dele. Mas ele não mereceu esta promessa. Espero que sofra quando descobrir que me casei com outro e fui embora. Talvez, então, sinta como é amargo o gosto da traição.
Pág. 103

Ao socorrer um enfermo, Liadan acaba caindo numa armadilha e raptada vai parar nas mãos dos mercenários sem lei que fazem qualquer coisa por pagamento para quem não conta com lealdade, honra ou justiça. Possuem aparências fantasmagóricas e selvagens, liderados pelo misterioso Homem Pintado: Bran.

— (...). Que tipo de vida é essa? Matar por dinheiro, viver sem nunca sair para o mundo real, sem poder... amar, ver suas crianças crescerem, ver uma árvore que tenham plantado crescer e refrescar seu jardim ou lutar para defender algo que seja realmente seu? Isso que vocês têm não é vida.
Pág. 139

Aos 22 anos, o líder visionário e corajoso Bran é temido por quem não o conhece, mas respeitado por todos. Homem de fibra e coragem, com uma infância perdida à margem da escuridão, amargurado e incapacitado de ter esperança.

— (...). O que a perturba tanto? Toda vez que me olha você vê... algo que a assusta. O que é?
— Morte (...). Terror. Sofrimento. Tristeza e perda. Não sei se é o passado ou o futuro que vejo, ou ambos.
Pág. 174

Apesar do medo de amar e rir, da sua frieza e de não possuir qualquer tipo de sentimento, ele lhe inspira confiança.

O Homem Pintado, uma criatura que inspira terror e veneração? Um homem que faz praticamente qualquer coisa desde que seja bem pago? Um homem sem consciência? Por que um homem desses se importaria em deixar uma mulher sozinha, especialmente se considerasse seu desprezo pelo gênero feminino?
Pág. 187

Mesmo sendo dedicada, esforçada e obediente, ele lhe desperta um lado que nunca julgou possível, mas ela não sabe que as aparências enganam por conta da sua ingenuidade. É uma personagem determinada e que vai atrás do que quer, mas seu espírito, suas crenças, seus princípios serão colocados constantemente à prova em sua jornada.

Ela tem uma capacidade enorme de amar e proteger, mas acaba se expondo. Sabia lidar com excesso de autoridade, escárnio, arrogância e indiferença, mas gentilezas sempre a desarmavam em se tratando desse grupo cruel. Adorava discutir com eles, mas onde há fumaça há fogo, mas aliado a fragilidade do amor, tudo fica ainda mais difícil.

(...) nossos destinos se entrelaçando. Era algo mais que a simples união carnal ou amorosa; era um vínculo que transcendia a própria morte, invisível e indestrutível.
Pág. 239

No decorrer da leitura, alguém teve seu propósito de vida e sua felicidade extirpados.

Em meio a perdas, despedidas e desconfianças um mal antigo está prestes a despertar. Quem será o filho da profecia que estabeleceria a paz entre os bretões e o povo de Northwoods e devolveria as Ilhas Sagradas ao povo de Sevenwaters? Será que conseguirá reparar o mal que assola os condados?

Em um mundo de sombras e incertezas há chance para ser feliz?

Apesar da sua força e coragem conseguirá resgatar um homem destemido, feroz, ameaçador — que possui no rosto o desenho de um corvo — das profundezas das sombras e escuridão? Bran conseguirá com que a sua luz volte a brilhar?

— (...). Você terá que expor cada uma das amarras do coração dele. Há muita dor ali; dor que ele não deseja partilhar com você. É uma criança paralisada pelo medo, presa em sonhos perdidos. (...).
Pág. 543

Em meio às adversidades, Liadan enfrentará seu destino com sabedoria, força e coragem, já que sempre quis a segurança e a paz de seu povo porque amava sua família e suas terras. Seu povo conseguirá promover a paz neste embate ferrenho pela disputa das Ilhas Sagradas? Conseguirá salvar sua irmã de uma vida sofrida? A alegria voltará e a família se unirá novamente?

Como se não bastasse, sozinha, chegará o momento em que terá que fazer uma difícil escolha, mas abrirá mão de algo que tanto ama? 

(...) o amor supera tudo, até mesmo a morte. O amor verdadeiro é para sempre.
Pág. 586

O desfecho, que me trouxe lágrimas aos olhos, foi arrebatadoramente surpreendente e comovente. Mesmo trazendo-me um torvelinho de emoções, não tem como não torcermos até o fim pela felicidade e pelo destino dos personagens. Quando julgava tudo perdido houve uma reviravolta que culminou num final que ansiei durante toda a história.

Tanto a capa – que refletiu exatamente o enredo – quanto o design gráfico e a diagramação estão primorosos. Claro que encontrei alguns erros de revisão (o que é uma pena), mas são ínfimos e relevantes diante de 616 páginas.

Assim como o primeiro volume, não consegui externar completamente tudo o que senti ao longo da leitura dessa obra – narrada em primeira pessoa pela protagonista, que me encantou por sua persistência, ambientada na Irlanda e que retrata a mitologia celta do século XIII –, que conseguiu me encantar ainda mais e também entrou para a minha lista de livros inesquecíveis por se tratar de um enredo fascinante e muito bem desenvolvido.

As cenas são bem descritas e visualizei cada momento deste livro repleto de magia, misticismo e seres sobrenaturais, aventura, mistério, ação com muitos perigos e suspense. E, claro, muito drama, romance e cenas pra lá de emocionantes.

Juliet me transportou para um universo ricamente detalhista, com uma sensibilidade nata tornando seus personagens bem construídos – com qualidades e também defeitos – e humanamente verossímeis com emoções tão palpáveis inerentes à nossa condição, que não tem como o leitor não se identificar em algum momento através de suas vivências e experiências.

Gostei de ver a química entre os protagonistas, mesmo diante de tanta fragilidade por conta de um amor proibido. Tudo foi evoluindo paulatinamente a duras penas, o que fez com que me encantasse ainda mais por eles.

Abracei seu corpo e o agarrei com todas as forças... não queria soltá-lo nunca mais. Mas não disse uma palavra. Aquele homem não tinha aprendido o significado do termo “carinho”. Nunca tinha aprendido a amar.
Pág. 214
— Por que, entre tantos homens que você podia ter escolhido, deixou que justo eu fosse o primeiro? Por que escolher um renegado, alguém cujas atitudes você tanto despreza? Por que desperdiçar sua honra com alguém tão sem valor?
Pág. 218

Bran me trouxe uma complexidade de emoções em meio à aflição, amargura, dor e fúria, mas o que realmente me cativou nele é que por trás dessa máscara de frieza, havia um ser humano intenso, passional e generoso.

(...) um homem cujo rosto era um mistura de luz e sombra, cuja face lembrava a expressão destemida de um corvo e ao mesmo tempo um jovem belo e leal.
Pág. 604

Em diversos momentos, me fiquei estupefata e, ao mesmo tempo, surpresa com a revelação acerca dos segredos do passado sombrio de Bran e Ciarán, que o condenaram a odiar a família de Sevenwaters. Ri e chorei tanto de emoção quanto de raiva. Vivenciei os dramas, as paixões e os conflitos de cada personagem.

— Aquela mulher e o homem que ela enfeitiçou é que me transformaram na criatura que sou hoje; o homem sem consciência, sem nome e sem qualquer habilidade que não seja a de matar. E sem identidade, exceto a que está gravada em sua pele. Eles me tiraram minha família, meu direito de existir e o meu nome.
Pág. 221

Uma leitura envolvente, intensa e visceral, que traz em suas entrelinhas ótimas reflexões sobre honra, confiança, coragem, amor, perversidade, falsidade, covardia e ódio. Que também nos ensina que, apesar de nossas limitações, temos o poder de mudar as coisas, fazer escolhas usando o nosso livre arbítrio. E que diante de nossa fragilidade, as coisas nem sempre são o que aparentam.

Apreciei como o enredo foi conduzido, porque a autora deixou transparecer em cada momento o quanto é importante acreditarmos e termos fé, respeitarmos a fauna e a flora, e vivermos a vida com simplicidade, porque a beleza dos relacionamentos está na singeleza das pequenas coisas.

Depois da escrita de Colleen McCullough, me tornei fã também de Juliet Marillier. Esta série entrou para o top das favoritas e inesquecíveis. É uma daquelas que perdurarão e minha memória para sempre.

Inicialmente, Sevenwaters era uma trilogia que passou a ser uma série composta por seis livros. Vamos torcer para que a editora Butterfly publique todos os livros. Seria maravilhoso! Se quiser saber mais acerca dessa série, leia aqui a entrevista que a escritora cedeu à editora.

SÉRIE SEVENWATERS

1. Filha da Floresta (Daughter of the Forest)
2. Filho das Sombras (Son of the Shadows)
3. Filha da Profecia (Child of the Prophecy)
4. Heir to Sevenwaters
5. Seer of Sevenwaters
6. Flame of Sevenwaters


Um comentário:

  1. Gostei bastante da resenha, deu para saber bastante sobre o livro e atiçar a vontade de ler.
    Adoro livros com magia, pena que seja uma série, ultimamente é o que tem me afastado de leituras incríveis, o lance da sequência.

    Resenha incrível como sempre Carlinha.
    Amei!

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